domingo, 27 de dezembro de 2020

Malandros também são celetistas

 Não é dia hoje que noto como é comum ver trabalhadores de comércio em minha cidade atenderem os clientes de forma muito ruim, de modo que são muito ineducados e carecem de simpatia, ferramentas fundamentais para quem trabalha diretamente com o público no comércio.

Não são todos, mas boa parte é assim.

Outro dia em meu trabalho público, falei com um rapaz de uma empresa privada que foi prestar serviço na repartição que ele somente poderia realizar tal atividade em cerca de duas horas, desse modo perguntei se ele tinha mais coisas de trabalho para fazer na rua, ele disse que sim, mas falou que preferiria ficar ali na repartição esperando dar a hora passar, olhando o facebook no celular, enquanto era remunerado pra isso.

Ele disse isso sem cerimônia ética alguma, com um sorriso de malandro um tanto diabólico e muito nojento no rosto.

Se tem uma coisa que me deixa com raiva é falta de ética no trabalho.

Sei que minha história anedótica pode não ser representativa da realidade, mas não é de hoje que reparo que os servidores públicos muito injustamente são sempre tachados como malandros acomodados frente aos trabalhadores da iniciativa privada, estes sim, trabalhadores incansáveis.

Entendo que essa é uma interpretação prosaica do Brasil.

De modo que o problema aqui é cultural, a malandragem e a falta de ética laboral são endêmicas por essas bandas, sendo essa uma das razões de nosso eterno fracasso enquanto nação.

Você não vê aqui a cultura de ética de trabalho que você viu ao longo da história dos EUA - vide a tal Ética protestante do trabalho, expressão cunhada por Max Weber -, ou na Alemanha, ou no norte da Europa, ou em partes da Ásia, ou na Nigéria.


Mas não, as criticas são quase sempre proferidas apenas ao setor público, onde também há muitos trabalhadores anti éticos, mas está não é uma peculiaridade do setor público brasileiro, é uma peculiaridade do Brasil.

Até entendo que os servidores públicos ganharam essa má fama devido ao pré 88, quando muita gente entrava sem concurso, apenas por indicação, muitos deles ainda estão no setor público ou se aposentaram recentemente, mas o perfil do servidor público que entra hoje é outro.

Basicamente alguns dos melhores cérebros deste país, pessoas competentes dispostas a servir, que passaram em concursos muito disputados.

7 comentários:

  1. Na blogsfera era muito comum vermos críticas a servidores públicos, sendo muitas vezes os comentários de pessoas que se declaravam servidores prontamente desqualificados.
    Em parte da sociedade vemos também um ar de reprovação quanto à servidores e ao serviço público.

    Vejo essas comparações entre servidores públicos e trabalhadores privados no sentido de quais seriam os melhores uma tremenda bobagem, muitas vezes apenas uma disputa de egos rasa e improdutiva.
    Há bons e maus trabalhadores em ambas as esferas, há boa e fraca produtividade em ambas as esferas, simples assim.

    O serviço público é um universo de milhares de empresas públicas e milhares ou milhões de servidores nas mais variadas funções, não é justo nivelar esse universo seja sob um viés muito positivo ou muito negativo.
    Há órgão públicos que estão num nível melhor que outros, seja pela questão financeira, estrutural, burocrática ou mesmo de recursos humanos.
    Não é justa uma comparação integral de empresas públicas como Senado, TCU ou Banco Central com uma pequena Prefeitura do Interior do Brasil, são perfis completamente diferentes.
    Seu últimos parágrafo está mais alinhado ao Senado, TCU ou Banco Central entre outros órgão de mesmo nível técnico do que com uma pequena Prefeitura.
    Isso sem contar as disparidades de funções e salários.

    Há sim bons funcionários mesmo em empresas públicas menores e mais humildes, inclusive ocupando cargos operacionais ou de baixa representatividade, porém muitos desses encontram-se "engessados" em suas funções, seja por suas limitações de atuação e/ou subordinação.
    Existem também quem começa bem e motivado, mas ao longo dos anos vai perdendo o pique, devido a rotina, falta de reconhecimento, burocracias e demoras em processos, falta de espírito de equipe e até mesmo sabotagens por parte de colegas ou politicagens.

    O ideal ao meu ver, embora nosso mercado de trabalho em muitos casos limitado, falta de qualificações de servidores para atuar em outros segmentos, zona de conforto, remuneração etc, seria que servidores conscientes saíssem do serviço público quando vissem que o mesmo já não significa muito pra sí.
    Falando grosseiramente, que aquele emprego já deu o que tinha que dar.
    Mas sabemos que isso raramente acontece e aí ficam muitos servidores desmotivados, empurrando seus empregos com a barriga até suas aposentadorias.
    Não generalizo de forma alguma, mas isso que citei não é raro.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde, Anon, exato, o que eu quis dizer com o texto é que o problema é cultural do Brasil e os malandros que fazem corpo mole estão tanto no serviço público quanto no setor privado.

      Também compreendo a critica quanto ao ultimo parágrafo, de fato, especialmente em prefeituras pequenas, a maioria dos salários não é atrativa, o que gera desinteresse por parte dos melhores profissionais, e a tendencia é q a maioria dos profissionais dessas prefeituras seja fraca, embora tenha alguns de qualidade.

      Suas pontuações sobre engessamento e perda gradual de pique são perfeitas.

      Abraços.

      Excluir
  2. Boa tarde, Astronauta.
    Infelizmente, existe gente ruim em todas as esferas, pública e privada. É como você falou, não existe essa de "todo servidor público é vagabundo e todo trabalhador da iniciativa privada é um herói".
    Por definição, em qualquer lugar a maioria estará na média ou próximo da média. Em termos de vagabundagem, falo por experiência própria, em empresa tem muito vagabundo encostado também, a diferença é que por conta do medo de serem demitidos eles aprenderam a se disfarçar melhor que os do serviço público. Em todo lugar é assim: fazem "N" pausas pra tomar café e fumar ao longo do expediente, ficam fofocando pelos corredores fingindo que estão indo nos setores resolver coisas, estão sempre com várias abas de sites nada a ver com o serviço abertas no computador mas são rápidos para minimizar tudo quando o chefe chega, estão sempre de olho no smartphone, e o pior é que por conta das vagabundagens feitas ao longo do dia, acabam esticando o expediente e fazendo hora extra, e ainda por cima acabam bem vistos, porque saem tarde, mas os chefões geralmente não percebem que eles só saíram tarde porque fizeram em 10 horas tarefas que poderiam ser feitas em apenas duas.
    Em parte isso é por mau caráter da pessoa, mas por outro lado também é um "mecanismo de sobrevivência" por conta de como as coisas funcionam em empresas no Brasil, pois em geral não adianta ser muito eficiente em uma empresa, porque isso geralmente só vai significar mais trabalho nas suas costas mas sem o devido reconhecimento (você nunca faz mais que sua obrigação e parece que você nunca consegue superar o quanto você custa para a empresa), pois todos somos vistos como peças descartáveis, então isso ajuda a explicar porque muitos funcionários de escritório enrolam ao longo do expediente. Se ao menos fosse permitido sair mais cedo quando se termina tudo o que há para fazer, as pessoas teriam algum incentivo a mais para serem eficientes. E se não houvesse também essa nossa cultura horrorosa de "quanto mais horas no trabalho, melhor visto é o funcionário", a eficiência na iniciativa privada aumentaria uns 1.000%, na minha opinião.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esses falsos e puxa sacos (que muitas vezes são as mesmas pessoas) são o que há de pior para os funcionário mais sérios que querem apenas fazer o seu trabalho.
      Esse tipo de funcionário "engana", a chefia que se deixa enganar por ser ególatra e esse tipo de gente sabe massagear o ego de superiores quando necessário, sabe fazer fofoca dos colegas e isso satisfaz de alguma forma alguns desses chefes.
      Quem paga a conta?
      O funcionário que não é assim, que trabalha e é na sua é que paga por esses imbecis.

      Excluir
    2. Fala Mago, boa tarde.

      Cara, vc ta falando de setor privado, mas a sua descrição é perfeita para alguns de meus colegas no setor público, impressionante.

      Acho que vc adentrou numa questão que penso muito a respeito, que é isso de precisarmos cumprir uma determinada carga de horário X, independente de qlr coisa, essa carga horária até faz sentido para funções que trabalham atendendo ao público, mas para atividades relacionadas a produtividade? Me parece uma cultura defasada já incompatível com o mundo de hj, empresas como Microsoft fizeram experimentos com redução de carga horária - creio que no Japão - e viram uma melhora na produtividade, que passa por um aumento da qualidade de vida do funcionário.

      Abraços.

      Excluir
    3. Vejo muito disso onde trabalho, Anon, poderia buscar o caminho fácil e ser mais um puxa-saco, mas prefiro ficar com minha dignidade e trabalhar seriamente, ainda que eu perca umas oportunidades de gratificação por conta disso e também vire alvo das criticas do time da fofoca, rs.

      Abraços.

      Excluir
    4. Lembro que a anos atrás vi comentários no blog do Pobretão sobre a "insalubridade" do trabalho em ambiente de escritório, Boa parte dos empregos públicos são realizados nesse tipo de ambiente.

      Na época achava os relatos até certo ponto exagerados, mas hoje posso dizer que entendo o que diziam.
      Esses ambientes cheios de papo furado, gente falsa, puxa sacos, fofoca e mentiras pode não causar muito estresse no curto prazo, mas no médio ou longo prazo pode sim ser doentio e insalubre.
      Não é atoa que há tantos profissionais desse tipo de serviço que após anos de jornada aparentam tanta apatia.
      Se a pessoa tiver a felicidade de trabalhar num ambiente mais transparente e sem pessoas desse tipo OK.
      Caso contrário infelizmente com o tempo e se a pessoa não for muito vigilante consigo mesmo, esse ambiente artificial pra dizer o mínimo pode sim prejudicar inclusive a saúde de alguém.

      Excluir

Nobres leitores, se eu demorar a responder, é porque provavelmente tô fazendo cosplay de eremita e estudando pra concursos.

Aquila non capit muscas