terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Resolvi fazer um concurso só pra distrair

 Eu fiz apenas um concurso em 2022, não, não foi o do Senado Federal.

Foi prum cargo de nível superior em um pequeno município do interior, com salário análogo ao meu atual.

Não, não me interessava a mudança.

Mas o Carreira de Concurseiro anda tão parado que resolvi fazer acho que pensando em ter o que escrever aqui.

Tirei um domingo qualquer e fui de carro próprio a cidade do concurso, uma cidadezinha destas muitas que tem no interior, vocês sabem o tipo ou até moram numa delas. Uns 20 ou 30 mil habitantes e com não muito o que fazer.

Os preços pelos menos são módicos, especialmente de imóveis, se comparados a cidade grande. Já pensou ganhar bem numa cidadezinha destas? Talvez num cargo federal que paga exatamente igual a seu homólogo na cidade grande...

Pois bem, cheguei cedo ao local e comi como um rei obeso na churrascaria mais popular do local, ao preço do restaurante mais barato que fica próximo a minha repartição em minha cidade de trabalho.

Péssima estratégia.

Comer pesado antes da prova torna a digestão mais trabalhosa, o que sobrecarrega nosso cérebro, não me peça uma explicação mais detalhada, eu  sou de humanas.

Mas, só estava fazendo a prova pra me distrair, então tanto faz.

Fui pra frente do local de prova e sentei num meio fio estreito e desconfortável. Um bando de roceiros se agregava próximo, esperando a abertura dos portões e falando um monte de bobagens, na cidade grande o cidadão médio fala muita bobagem, mas roceiros são mestres nisso.

Notei um conhecido meu próximo, sentado mais adiante no meio fio, estudando. Evidentemente que este cara levava o concurso a sério. Vou chamá-lo doravante de especialista fiscal. Porque há uns anos, creio que há uns sete anos, ele me disse que somente estudava pra área fiscal.

Um carequinha gente boa que era amigo de um amigo que frequentava boates comigo quando eu era mais novo. Sim, houve um período negro de minha vida em que eu frequentava boates, hoje sinto vergonha de dizer isso. Mas, divago.

Portões abertos. Dei meia hora mais la fora antes de entrar, como é estratégico, passei no banheiro e enchi a garrafa d'água, fui pra sala faltando uns 15-20 minutos pro inicio, perfeição!

O mau é que já não podia escolher a cadeira de minha preferência, a maioria estava ocupada, então se você é desses que quer escolher, é melhor tentar chegar um pouco mais cedo, exceto claro em provas de bancas que notoriamente já indicam a cadeira pra você sentar.

Mas nem tudo está sobre meu controle, a prova ainda atrasou uns cinco minutos pra começar em minha sala, enfim. Pelo menos não peguei um daqueles fiscais chatos que falam bem além do necessário. Este falava o essencial, o que eu espero de um fiscal.

Quando eu estava sentado, esperando a prova começar, quem entra na sala? Ele, o Especialista Fiscal. Não pude deixar o grau de nervosismo e agitação nos braços sempre na vertical e mais acentuada nas mãos que insistiam em mexer de um lado pro outro enquanto rentes ao corpo.

Nervosismo de quem estudou muito e depende da aprovação, bônus se já estiver estudando há anos sem resultados de classificação, o que me parece ter sido o caso.

O especialista fiscal sempre foi um cara educado e simpático, o tipo de cara para o qual você torceria num concurso.

Eu, fiz a prova  e não pude deixar de notar meu despreparo em certas matérias, estou há anos parado, se este concurso me serviu pra algo, serviu pelo menos pra me fazer notar o quanto eu estou destreinado. É preciso me atualizar.

Saí da escola. Um dos primeiros, provavelmente pontuando muito longe da classificação, mas pra mim não era jogo sério, se fosse eu teria brigado questão a questão e olha só, teve até uma que marquei errado no gabarito. Displicência amadora. 

Encontrei um antigo colega, de meu penúltimo emprego, o qual agora ocupa cargos em comissão razoáveis. Ele me perguntou como fui, disse que a prova estava chata e relativamente difícil pro salário que este cargo pagava, nada formidável. Ele concordou, mas disse assim "Mas Astronauta, se você acha que tá ruim pra gente, saiba que tem gente pior", concordei com a cabeça, me despedi com um abraço e caminhei ao meu carro pensando que sim, tem muita gente pior, este sempre foi o caso, são os bucha de canhão, mas tais figurantes não são e nem nunca foram meus adversários, brigo mesmo com os candidatos realmente competitivos. 

Em tempo, o Especialista Fiscal foi bem na prova, não classificou, mas está na cola dos primeiros.

E assim foi fazer um concurso por Hobby. Chamem-me de louco, mas eu faria de novo. Se por algo, pelo menos pra ter o que escrever aqui...

domingo, 25 de dezembro de 2022

Memórias de um Concurseiro que não faz concurso

 Os últimos anos tem sido relativamente gentis para mim. Relativamente. Talvez porque eu sempre estive acostumado a apanhar muito na vida, mas quando fui nomeado em meu cargo atual há uns quatro anos, a vida até que melhorou um pouco e se assentou.

Não é meu primeiro cargo público, mas de longe é o melhor, já falei de cargos públicos horríveis que tive aqui.

Me acostumei então a segurança de uma monotonia, de uma rotina diária que me traz uma segurança melancólica. 

Ontem, no entanto, fui trabalhar e notei que o dia estava particularmente cinza. Um desanimo se abateu sobre mim e me dei conta que meus sonhos de riqueza tem ficado distantes, em segundo plano ou mesmo esquecidos em prol de uma vidinha modesta e segura.

Não viverei para sempre, estou envelhecendo aos poucos nesta rotina. 

Isso, meus amigos, é a zona de conforto a qual me acostumei.

Ainda me identifico como concurseiro, no sentido que pelo menos desejo, fazer concursos. Mas não os faço.

A pandemia foi um baque, congelou novos editais... mas não foi só ela que me inibiu, eu também sou culpado.

Mas não sou irresponsável, procuro ser ético e tenho minhas responsabilidades em meu cargo atual, o público depende de mim, não posso fazer um trabalho porco.E sinceramente, agora que estou dentro desconheço que se se tenha tão pouca demanda assim num cargo público como reza a lenda, talvez isso seja verdade em outros órgãos, ou tenha sido em outros tempos... Mas, se você for um bom profissional, sempre te procurarão aumentando suas responsabilidades, geralmente pelo mesmo salário, e eu sou daqueles que não sabe dizer não.

Esta talvez seja a falha, admito, na estratégia Carreira de Concurseiro que eu prego aqui.

Você corre o risco de se acomodar num salário medíocre.

E se afundar em demandas daquilo que deveria ser apenas algo temporário, uma etapa de um Carreira de Concurseiro.

Entretanto, continuo afirmando que se você é pobre, não se pode dar  ao luxo de só ir em concursos de alto nível, faça o que pintar, para se manter.

Se você é rico e tem quem o banque, a carreira de concurseiro não é pra você, vá direto nos cargos muito bons.

Por fim, se for mesmo seguir a carreira procure, sempre que possível, favorecer cargos que sejam bastante tranquilos e que te possibilitem estudar pra outra coisa melhor, procure também se manter motivado, sempre estudando.

E tenha, claro, um Feliz Natal. Forte abraço.

Aquila non capit muscas