A besta tem um numero, e ele é 32/ 2020, a PEC do apocalipse concurseiro.
Haha, desculpem abrir o texto de forma dramática, vou bancar o advogado do Diabo por um segundo e dizer que existe muita coisa no setor público que precisa mudar e inclusive essa PEC abrange algumas dessas coisas...
Entretanto...
Alguns itens da PEC são simplesmente bizarros e se aprovados, acabariam de vez com qualquer sonho de qualidade no serviço público brasileiro.
Em alguns pontos, na minha visão, Paulo Guedes demonstra certa ingenuidade com o que é o setor público, especialmente num trecho que eu considero o pior ponto desta PEC, que é o seguinte:
II-A - a investidura em cargo com vínculo por prazo indeterminado depende, na forma da lei, de aprovação em concurso público com as seguintes etapas:
a) provas ou provas e títulos;
b) cumprimento de período de, no mínimo, um ano em vínculo de experiência com desempenho satisfatório; e
c) classificação final dentro do quantitativo previsto no edital do concurso público, entre os mais bem avaliados ao final do período do vínculo de experiência.
É aí que a coisa fica esquisita, essa tal etapa de avaliação abre muita brecha pra avaliações de caráter pessoal que em nada representam verdadeira avaliação técnica, isso não daria certo no setor público e sequer acho que dá certo no setor privado, de onde vem a inspiração.
Ora, a literatura pertinente é farta sobre o fato de que neste tipo de avaliação com aberturas a pessoalidade, candidatos mais bem apessoados e extrovertidos possuem vantagens descabidas sobre feios introvertidos e em nada isso tem relação com questões de real qualidade laboral.
O feio introvertido que sou jamais teria chances de crescer em tal cenário.
Daí, sempre achei que o setor público, embora marcado por seus defeitos, sempre deu um banho no setor privado no que tange a uma questão, que é a seleção de profissionais.
De modo que não há entrevistas questionáveis com profissionais de RH oriundos de uma cultura de seleção corrompida ou demais fases de gincaninhas trainee questionáveis, o que há é uma singular prova, uma avaliação fria que não liga pra absolutamente nada sobre seu aspecto profissional, se você é feio/ bonito, introvertido/ extrovertido etc. apenas liga para seu conhecimento e isso é o que importa.
Se este trecho da PEC passar, o setor público brasileiro virará uma versão ainda pior do setor privado. Parte do setor público brasileiro é assim, com muitos comissionados sendo mal selecionados, isso sim deveria ser melhor regulamentado...
Enfim, se esse trecho da PEC for aprovado, esqueça os estudos, a etapa do concurso perderá relevância, foque em puxar saco e em tirar uma boa foto de terno pra colocar no perfil do LinkedIn.