sábado, 26 de setembro de 2020

A pec do apocalipse concurseiro

A besta tem um numero, e ele é 32/ 2020, a PEC do apocalipse concurseiro.

Haha, desculpem abrir o texto de forma dramática, vou bancar o advogado do Diabo por um segundo e dizer que existe muita coisa no setor público que precisa mudar e inclusive essa PEC abrange algumas dessas coisas...

Entretanto...

Alguns itens da PEC são simplesmente bizarros e se aprovados, acabariam de vez com qualquer sonho de qualidade no serviço público brasileiro.

Em alguns pontos, na minha visão, Paulo Guedes demonstra certa ingenuidade com o que é o setor público, especialmente num trecho que eu considero o pior ponto desta PEC, que é o seguinte:

II-A - a investidura em cargo com vínculo por prazo indeterminado depende, na forma da lei, de aprovação em concurso público com as seguintes etapas:

a) provas ou provas e títulos;

b) cumprimento de período de, no mínimo, um ano em vínculo de experiência com desempenho satisfatório; e

c) classificação final dentro do quantitativo previsto no edital do concurso público, entre os mais bem avaliados ao final do período do vínculo de experiência.

É aí que a coisa fica esquisita, essa tal etapa de avaliação abre muita brecha pra avaliações de caráter pessoal que em nada representam verdadeira avaliação técnica, isso não daria certo no setor público e sequer acho que dá  certo no setor privado, de onde vem a inspiração.

Ora, a literatura pertinente é farta sobre o fato de que neste tipo de avaliação com aberturas a pessoalidade, candidatos mais bem apessoados e extrovertidos possuem vantagens descabidas sobre feios introvertidos e em nada isso tem relação com questões de real qualidade laboral.

O feio introvertido que sou jamais teria chances de crescer em tal cenário.

Daí, sempre achei que o setor público, embora marcado por seus defeitos, sempre deu um banho no setor privado no que tange a uma questão, que é a seleção de profissionais.

De modo que não há entrevistas questionáveis com profissionais de RH oriundos de uma cultura de seleção corrompida ou demais fases de gincaninhas trainee questionáveis, o que há é uma singular prova, uma avaliação fria que não liga pra absolutamente nada sobre seu aspecto profissional, se você é feio/ bonito, introvertido/ extrovertido etc. apenas liga para seu conhecimento e isso é o que importa.

Se este trecho da PEC passar, o setor público brasileiro virará uma versão ainda pior do setor privado. Parte do setor público brasileiro é assim, com muitos comissionados sendo mal selecionados, isso sim deveria ser melhor regulamentado...

Enfim, se esse trecho da PEC for aprovado, esqueça os estudos, a etapa do concurso perderá relevância, foque em puxar saco e em tirar uma boa foto de terno pra colocar no perfil do LinkedIn.




Recomendação de post

Li pela manhã o mais novo texto do colega Gari Advogado, A TRAJETÓRIA do Gari Advogado nos concursos e posterior ILUSÃO/ FRUSTRAÇÃO, um pouco cumprido, mas vale a leitura, o autor narra um pouco de suas frustrações com concursos públicos e com o ambiente de trabalho no setor público, não concordo 100% com o que ele colocou, mas ele traz uma discussão bastante valorosa.

Aquila non capit muscas