quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Deputados querem apenas apadrinhados no setor público

 Eu sei que no último post eu já havia desejado um feliz ano novo na eventualidade de não voltar aqui esse ano, mas aí me deparei com essa notícia bizarra que me obrigou a voltar aqui, trata-se do seguinte:

Frente quer mudar regra de concursos

Concursos Públicos: parlamentares defendem novas regras para editais

Leia trecho da matéria:

De acordo com o deputado Tiago Mitraud, defensor das alterações, a ideia é que as seleções tenham mais discricionariedade.

A proposta da Frente Parlamentar é trazer para o Brasil critérios já utilizados em outros países como análise de currículo, realização de entrevistas, experiência ou teste psicológicos antes de contratar o servidor que passar no concurso.

A proposta, caso aprovada, será inclusa no texto da reforma administrativa encaminhada pelo governo em setembro à Câmara dos Deputados.

A matéria está parada, mas a frente parlamentar que a defende busca apoio para tornar ainda mais rígidas as regras para contratação de funcionários públicos e comissionados.

A expectativa é que a matéria comece a andar após a eleição da mesa da Câmara e do Senado.

Desnecessário dizer o que ocorrerá se algo assim for aprovado, brechas para colocação de apadrinhados nos cargos públicos, como já ocorre no setor privado e mesmo em partes do setor público, nos infames cargos em comissão.

Essa proposta vai na contra mão de um serviço público de qualidade.

Ainda que a seleção não seja embasada em cartas marcadas, pessoas atraentes e extrovertidas terão vantagem sobre feios e introvertidos.

Perde o setor público, perde o Brasil.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Cartão de crédito não é reserva de emergência

 Esses dias um amigo meu veio se queixar da vida dura, o desgraçado deve ganhar cerca de 3 mil ao mês e reclamou que não tinha dinheiro pra pagar uma pancada, um imprevisto com o carro que renderia um golpe de cerca de 1.5 mil.

Ele disse que utilizaria o cartão de crédito para pagar a pancada.

Perguntei ao Sr. Desgraçado, já esperando qual seria a resposta, se ele não teria uma reserva de emergência para usar em caso destes imprevistos.

A resposta do respeitoso sr. foi negativa.

E ele emendou,: - Ora, mas eu posso utilizar o cartão de crédito para exercer a função que essa tal "reserva de emergência" faria, eu nem pago taxas no cartão...

A primeira vista pode parecer que sim, o problema, informei, é que a renda do Sr. desgraçado ficaria desfalcada em X% ao longo de y meses para pagar tais parcelas.

Nessa hora, o Sr. desgraçado me olhou com uma cara de total perplexidade como estivesse sendo apresentado a um conceito completamente alienígena. 

Isso sempre me deixa irritado, noções básicas de finanças pessoais parecem soar como astrofísica para o brasileiro médio.

Bancando o advogado do Diabo, o Sr. Desgraçado poderia argumentar que também ficaria com o salário desfalcado ao longo de meses para repor a reserva de emergência. O argumento é bom, mas ao meu ver não se sustenta, de modo que neste caso ele teria maior controle sobre ao longo de quanto tempo e em que quantia pagaria a reposição do fundo de emergência.


Bom, este foi meu pequeno probleminha de finanças pessoais.

Por enquanto é isso pessoal, se não voltar aqui esse ano, um feliz ano novo, muita saúde e paz em 2021!

domingo, 27 de dezembro de 2020

Malandros também são celetistas

 Não é dia hoje que noto como é comum ver trabalhadores de comércio em minha cidade atenderem os clientes de forma muito ruim, de modo que são muito ineducados e carecem de simpatia, ferramentas fundamentais para quem trabalha diretamente com o público no comércio.

Não são todos, mas boa parte é assim.

Outro dia em meu trabalho público, falei com um rapaz de uma empresa privada que foi prestar serviço na repartição que ele somente poderia realizar tal atividade em cerca de duas horas, desse modo perguntei se ele tinha mais coisas de trabalho para fazer na rua, ele disse que sim, mas falou que preferiria ficar ali na repartição esperando dar a hora passar, olhando o facebook no celular, enquanto era remunerado pra isso.

Ele disse isso sem cerimônia ética alguma, com um sorriso de malandro um tanto diabólico e muito nojento no rosto.

Se tem uma coisa que me deixa com raiva é falta de ética no trabalho.

Sei que minha história anedótica pode não ser representativa da realidade, mas não é de hoje que reparo que os servidores públicos muito injustamente são sempre tachados como malandros acomodados frente aos trabalhadores da iniciativa privada, estes sim, trabalhadores incansáveis.

Entendo que essa é uma interpretação prosaica do Brasil.

De modo que o problema aqui é cultural, a malandragem e a falta de ética laboral são endêmicas por essas bandas, sendo essa uma das razões de nosso eterno fracasso enquanto nação.

Você não vê aqui a cultura de ética de trabalho que você viu ao longo da história dos EUA - vide a tal Ética protestante do trabalho, expressão cunhada por Max Weber -, ou na Alemanha, ou no norte da Europa, ou em partes da Ásia, ou na Nigéria.


Mas não, as criticas são quase sempre proferidas apenas ao setor público, onde também há muitos trabalhadores anti éticos, mas está não é uma peculiaridade do setor público brasileiro, é uma peculiaridade do Brasil.

Até entendo que os servidores públicos ganharam essa má fama devido ao pré 88, quando muita gente entrava sem concurso, apenas por indicação, muitos deles ainda estão no setor público ou se aposentaram recentemente, mas o perfil do servidor público que entra hoje é outro.

Basicamente alguns dos melhores cérebros deste país, pessoas competentes dispostas a servir, que passaram em concursos muito disputados.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Concursos acumulados para 2021?

É amigos, o ano está acabando e o deserto de concursos que eu já previa há meses se concretizou. 

Eu mesmo não fiz concursos este ano.

Mas tudo bem, um homem sábio certa vez observou que a hora mais escura ocorre logo antes do alvorecer.

E uma hora o alvorecer virá, a pandemia não durará para sempre, e mesmo que persista muito, o jeito será fazer concursos observando formas de segurança anti vírus. Uma preocupação extra para as bancas que anteriormente já tinham que se ater muito no combate a fraudes por parte de candidatos desonestos. Penso que uma solução seria o uso de salas com menos candidatos, o que que demandaria mais salas e mais pessoal, e consequentemente também talvez justifique um eventual aumento no já caro valor cobrado nas inscrições, mas eu estou apenas especulando aqui, não sei como as bancas agirão.

Não me levem a mal, sou favorável a medidas de contenção do vírus, mas acho um absurdo que escolas estejam fechadas e concursos não ocorram ao passo que boates e botecos estão lotados, muitas vezes com pessoas muito embriagadas que simplesmente não se encontram em estado de se ater e respeitar protocolos básicos de combate a covid-19 (uso de máscara, álcool e distanciamento).

Fato é que os concursos que não ocorreram em 2020 ficaram para um futuro próximo, em 2021. 

Aqui no RJ, temos TCE com previsão de provas para o próximo ano, TJ em banho maria, UFF com inscrições reabertas para fevereiro, Fesaude de Niterói também com inscrições para o começo do próximo ano, além de diversos outros concursos menores, minha expectativa é que 2021 seja farto em concursos, e este é um dos efeitos da pandemia que observo ter afetado o mundo dos concursos.

O outro, já comentei em outro post há uns meses, diz respeito ao fato de que temos muita gente em casa sem ter o que fazer e possivelmente candidatos brutalmente bem preparados indo atacar estes concursos de 2021, com praticamente um ano inteiro de preparo, muitos dos quais começaram o ano esperando fazer concursos como TCE e TJ e viram as provas sendo postergadas, o que muitos deles fizeram? Alguns devem ter desacelerado ou mesmo parado de estudar, mas outros, mais fortes, devem estar estudando até agora, com edital na mão ao longo de meses, essa gente ta no páreo e quem começar estudar para TJ e/ou TCE agora vai lidar com este tipo de candidato em seu estado de melhor preparo.

Pedreira.



Um feliz natal e um próspero ano novo a todos.


Abraços.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Provas de concursos para PM são fáceis?

 Olha, se tem um concurso que te um nível de dificuldade atípico para o salário auferido, esse é o de soldado da PM, de modo que ele possui nível de dificuldade muito inferior a outros cargos de salário análogo, além de um número muito elevado de vagas, o que claro diminui a relação candidatos/ vagas.

Claro que é preciso aptidão para seguir tal carreira, o que até reforça meu argumento, de modo que muitos concurseiros de ótimo nível simplesmente não tem interesse na carreira policial.

 Claro também que o salário de soldado da PM varia entre UFs, dessa forma o nível de concorrência atraída varia muito também, dificultando ou facilitando o nível da prova, assim talvez nem todos os estados da federação estejam em sintonia quanto ao nível de dificuldade.

Aqui no RJ o soldo não é muito bom e a prova é fácil.

Vejamos algumas questões da prova de 2010 para soldado PM RJ (vamos dar um desconto porque entre 2010 e 2020 o nível de dificuldades de concursos aumentou muito, mas essa é a prova mais recente para soldado PM RJ, então é a que vou usar de exemplo).

A prova completa está disponível no qconcursos, só vou apresentar umas poucas questões aqui:



Texto I
Os cem dias de Paes
As operações de choque de ordem pública marcaram os cem dias da administração de Eduardo Paes.
O Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) realizou uma pesquisa sobre o assunto, publicada no Globo de 05 de abril de 2009, ouvindo 850 moradores do Rio, distribuídos proporcionalmente pelos critérios de sexo, idade e região.
As entrevistas foram feitas por telefone, entre os dias 30 de março e 02 de abril, resultando no gráfico a seguir: 

Aprova ou desaprova as operações?


O número de entrevistados que aprovam totalmente as operações é
Começamos com uma questão fácil que se aparecesse num concurso concorrido irritaria qualquer candidato minimamente sério devido ao nível de dificuldade.

O texto informa que a amostra foi de 850 moradores, segundo o gráfico de setores apresentado, 40% aprovam totalmente as operações, o que dá 340 pessoas, resposta "D".

Há outras questões de matemática muito fáceis na prova, recomendo que olhe o link ao qconcursos, vejamos agora uma de português:

Diz-se que a intertextualidade ocorre quando um texto evoca ou cita outro já consagrado. Marque a opção em que existe esse procedimento textual.
  • Há um texto associado a questão que eu sequer coloquei aqui, ele não é necessário à resolução da pergunta, a resposta, claro, letra B. O que me deixou perplexo foi olhar as estatísticas apresentadas pelo excelente qconcursos e descobrir que quase 68% dos que responderam a questão no site erraram.
  • Pra não dizer que usei somente o RJ como exemplo, veja essa reportagem de um site do Mato Grosso do Sul, entrevistando candidatos que realizaram a prova da PM do estado em 2018, uma das entrevistadas se referiu ao conteúdo da prova como "mamão com açúcar". 
  • Bom é isso, ouvi dizer também que a prova para policia civil em muitos estados também é bastante tranquila, um dos exemplos que me foi dado foi a da PC-MG, creio que realizada por volta de 2013, mas não pesquisei mais a fundo então estaria sendo leviano aqui em afirmar qualquer coisa.
  • Fica aí a dica então, claro que tanto PM quanto PC é algo indicado para candidatos que tenham muita aptidão e desejo de trabalhar na área, precisamos de bons policiais neste país.

Aquila non capit muscas