quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A sacralização do ensino superior no Brasil


De cara já começo alertando que este aqui é um assunto extenso e que muito possivelmente voltarei a ele em outros posts, afinal este tópico não pode ser esgotado em único texto curto.

Dito isso...

Me recordo que há alguns anos estava conversando com um colega de faculdade, um tipico estudante de licenciatura, sem muitas pretensões financeiras, ansioso pra passar a vida lecionando na educação básica para alunos que não querem aprender enquanto reclama que os docentes brasileiros deveriam ser mais bem remunerados, sabe, você deve conhecer alguém assim, figurinha cliché.

Pois bem, em algum momento a nossa conversa de bar adentrou no tópico da regulamentação da profissão de historiador, que naquela época ainda não possuía lei regulamentadora, e na verdade ainda não tem.

Este meu amigo defendia arduamente que caso uma lei regulamentando tal profissão fosse redigida, esta deveria restringir o exercício da função para formados em História, entendo tal posição, afinal o corporativismo de um futuro formado na área bateu forte no peito de meu amigo.

Discordo que só os historiadores de formação possuem capacidade para trabalhar na área, bem como perderíamos muita produção por tal restrição desnecessária, pois creio que nem todas as profissões, a maioria talvez, possam ser exercidas por profissionais de qualidade, ainda que não detentores de diploma na área.

Acredito que se um individuo possui habilidades natas com escrita e pesquisa, por exemplo, ele pode ser um ótimo jornalista, ainda que sem o diploma.


O que a exigência do diploma acaba ocasionando é o fato de que um grande profissional pode ser preterido por um imbecil pelo único fato da detenção ou não de um diploma de nível superior, muitas vezes conquistado em uma Uniesquina...

Veja a lei que regulamenta a profissão de turismólogo, por exemplo, de cara temos um artigo que fora muito sabiamente vetado. Tal artigo vetado estabelecia o seguinte:

“Art. 1o  A profissão de Turismólogo será exercida:
I - pelos diplomados em curso superior de Bacharelado em Turismo, ou em Hotelaria, ministrados por estabelecimentos de ensino superior, oficiais ou reconhecidos em todo o território nacional;
II - pelos diplomados em curso similar ministrado por estabelecimentos equivalentes no exterior, após a revalidação do diploma, de acordo com a legislação em vigor;
III - por aqueles que, embora não diplomados nos termos dos incisos I e II, venham exercendo, até a data da publicação desta Lei, as atividades de Turismólogo, elencadas no art. 2o, comprovada e ininterruptamente há, pelo menos, cinco anos.”
Detalhe que pelo texto do artigo, ainda seriam impossibilitados de exercer a profissão os licenciados e tecnólogos da área, o que seria outro atraso. Pois bem a justificativa para o veto é muito pertinente: “A Constituição, em seu art. 5o, inciso XIII, assegura o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, cabendo a imposição de restrições apenas quando houver a possibilidade de ocorrer algum dano à sociedade.” 


Desta forma, pergunto, creio que ninguém negará que diplomas de medicina, odontologia e engenharia, por exemplo são indispensáveis para o exercício de tais profissões, entretanto, há mesmo necessidade de se exigir diploma de nível superior para o exercício profissional em  áreas como História, Jornalismo, turismo e tantas outras?


8 comentários:

  1. Respostas
    1. O brasileiro precisa urgentemente olha a sociedade como um todo e não somente os seus próprios interesses.

      Grande abraço C.I.

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  2. A única utilidade de diplomas obtidos em alguns cursos de humanas é só para mostrar que passou por uma universidade/faculdade e fazer concursos de nível superior. Fora isso, não há utilidade alguma.

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  3. Não esperaria menos do Bananil, o país do papel. Mais vale o que o "deus" Estado diz do que a própria realidade como ela é. Como sempre, aqui TUDO é invertido.

    Tirando a área da saúde, todos os cursos superiores da HUEHUElândia BR perderam o sentido.
    De nada adianta comer livros e ouvir mestres e "dotôres" que NUNCA atuaram no mercado, se não tiver PRÁTICA, expertise, networking na área e aptidão/talento natural.

    Sugestão de leitura de um beta:
    http://vidasemsentidodebeta.blogspot.com.br/2016/11/a-ilusao-do-ensino-superior-no-brasil.html

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  4. cara, isso é reserva de mercado da classe media
    assim vc pode justificar os gastos dos pais na educação dos filhos e os autos valores cobrados por livros e escolas/faculdades
    no final, a maioria sai sem saber nada

    abs!

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    1. Também tem os gastos estatais, oriundos daqueles programas do gov. federal que subsidiam estudo em faculdades particulares que são muitas vezes de baixa qualidade, para alunos que são muitas vezes inaptos para estudos complexos.

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Nobres leitores, se eu demorar a responder, é porque provavelmente tô fazendo cosplay de eremita e estudando pra concursos.

Aquila non capit muscas